Confesso que nunca simpatizei com Mário Soares, assim como nunca nenhum político me seduziu. Sou alérgico a essa sub-espécie de gente que vegeta á custa dos impostos da população e se apodera do Estado como se fosse a sua coutada privada. Dito isto, lamento, no entanto, o estado de saúde de Mário Soares e o sofrimento dele próprio e dos seus familiares ao longo destes dias de internamento hospitalar em estado crítico.
Pode ser que me engane, mas nestas horas de expectativa prevejo que se esteja a preparar um endeusamento daqueles a quem já muitos, mais ou menos de forma oportunista, o elegeram como o Pai da Democracia em Portugal. O que não é verdade.
Se hoje existe um regime democrático no nosso País isso deve-se a um punhado de militares que tiveram a coragem de colocar em risco as suas carreiras e a própria vida para derrubarem pela força das armas o Estado Novo. E foi por um triz que, por várias vezes, esteve para acontecer uma sangrenta guerra civil. Como estava no Exército nessa altura sei bem do que estou a falar.
Cruzei-me pessoalmente com Mário Soares numa única ocasião. Foi no Palácio de S. Bento, era ele primeiro-ministro e eu fui, muito contrariado, a representar a empresa onde trabalhava. Foi uma seca. Confirmei a ideia que tinha dele: egocentrico, arrogante e politicamente social-fundamentalista. Não me admira, portanto, que tenha feito algumas amizades, muitas inimizades e que alguns dos seus amigos o deixassem de ser por falta de paciencia para aguentar os seus dogmas. E alguns dos que agora o adulam também o traíram. Mesmo sendo socialistas...
Não admirando a criatura mas lamentando o seu estado de saúde, repugna-me o aproveitamento político-histórico que se prepara para cobrir o País de hipocrisia e inverdades. Pode ser que me engane, mas não acredito.