terça-feira, 19 de setembro de 2017

A tropa de passo trocado


Na mesma altura em que soldados portugueses combatem na República Centro Africana sob a bandeira da ONU, a Liga dos Combatentes, os comandantes máximos do Exército e o próprio Presidente da República preparam-se para amnistiar um soldado condenado à morte por fuzilamento durante a I Guerra Mundial. Acusado de "deserção", o soldado motorista João Augusto Ferreira de Almeida, de 23 anos, do Batalháo de Infantaria 14 foi varado pelas balas do pelotáo de fuzilamento, na madrugada de 16 de Setembro de 1917, na Flandres. 

Não entendo, de modo algum, esta iniciativa para "amnistiar" um traidor que se preparava para se passar para as linhas inimigas, onde esperava encontrar uma nova vida com o apoio de um seu antigo patrão alemão no Porto. 
O único militar português fuzilado durante a I Grande Guerra nem sequer desempenhava funções que colocassem a sua vida em perigo. Era um motorista de camiões e apenas se soube da sua intenção de desertar porque confidenciou a inúmeros colegas essa sua decisão. Além disso, encontraram junto dos seus haveres vários mapas militares das posições ocupadas pelo Corpo Expedicionário Português e dos seus Aliados no sector, o que fazia prever que iria revelar aos alemães quais os lugares ocupados pelos seus companheiros. 
Acho absolutamente despropositada esta "aministia" a um potencial traidor e desertor, mas, por outro lado, fico a compreender melhor, infelizmente, o relevo dado a figuras públicas que desertaram e colaboraram com o inimigo durante a Guerra do Ultramar. 
Os homens que caíram em combate não mereciam nem esta "amnistia" francamente deplorável, nem a relevância que alguns cobardes fugidos das nossas forças ou colaboradores dos guerrilheiros nacionalistas africanos merecem dos meios de comunicação social, onde ainda se gabam da traição ao país e aos seus camaradas e das sabotagens e informações passadas que ou danificaram material de guerra precioso para os nossos militares em combate ou, pior ainda, das mensagens passadas a quem acabou por matar ou ferir elementos das nossas forças armadas. 
Não, meus senhores (?), esta "aministia" incomoda-me e enoja-me tanto como as caras dos desertores da Guerra do Ultramar que tantas vezes  são sacrilizados e endeusados nos media. 

É revoltante! A tropa anda mesmo com o passo trocado...