quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O perigo é das armas ou das pessoas?

Um estudante americano, Nikolas Cruz, de 19 anos, assassinou 17 estudantes na escola secundária Marjory Stoneman, no estado da Florida, depois de disparar indiscriminadamente sobre os alunos, professores e o pessoal auxiliar do estabelecimento de ensino. Este caso coloca, mais uma vez, no topo da actualidade a (relativa) facilidade com que se adquirem armas nos Estados Unidos. A questão coloca-se desde a fundação do país, onde a 2ª emenda da constituição, aprovada em 15 de Dezembro de 1791, permite â população, individualmente ou em milícias de defesa, ter o direito a possuitr armas de fogo ou outras. 
Nikolas Cruz armou-se de uma espingarda de assalto Armalite AR-15 e, sem que se saibam os motivos concretos, iniciou mais uma matança para os anais da história americana. As lojas de vendas deste tipo de armamento "travam" as espingardas de modo a que não possam fazer rajadas de mais de 3 tiros seguidos, mas os compradores geralmente "destravam-nas" para despejarem um carregadores de 20-30 muniçóes de calibre 5,56mm de uma só vez, o que as torna substancialmente mais mortíferas. 
A National Rifle é um lóbi extremamente poderoso que se opõe a qualquer restrição e, deste modo, o congresso nunca reviu a 2ª emenda da constituição, apesar dos protestos, não organizados, de significativa parte da população. O presidente Obama, tentou, sem grande empenho diga-se de passagem, alterar este "status" mas sem qualquer resultado. Já o presidente Donald Trump, como todos os outros anteriores a Obama, fossem eles democratas ou republicanos, defendem a tradição do uso de armas, sendo figuras proeminentes da defesa pessoal os actores Charlton Heston e Clint Eastwood e, obviamente, os fabricantes de armas. 
Esta celeuma relativa ao porte de arma também deve ter em conta a especificidade da fundação e consolidação dos Estados Unidos, desde a Guerra da Independència com os ingleses, as lutas com os índios e a vida selvagem, além de imensos territórios  (o Texas é do tamanho da França) sem lei, onde a autoridade era delegada pelos cidadãos a indivíduos de passado mais ou menos duvidoso como Wyatt Earp, Bat Masterson, Wild Bill Hickok e milhares de outros que "policiaram" aqueles intermináveis espaços. 
A posse de armas entranhou-se no espírito norte-americano e o seu direito continua inalienável na grande maioria da sociedade. Há, no entanto, uma questão que gostaria de abordar. A culpa de todo este cenário sanguinário é dos homens ou das armas? Repare-se neste pequeno pormenor. Segundo as estatísticas ocorrem no Brasil, onde a venda de armas não é livre, 50 mil homicídios por ano, enquanto nos Estados Unidos, com todas estas facilidades de aquisição, os homicídios não ultrapassam os 15 mil anuais. Em Portugal a questáo das armas também não é muito tranquilizadora. Entre caçadeiras, pistolas, espingardas e metralhadoras, andarão pelos dois milhões o número de exemplares, entre os licenciados para a caça, legalizados para uso pessoal e um sem-número de clandestinas, traficadas, roubadas e desviadas, entre elas os muitos milhares que vieram furtivamente das ex-colónias, após o 25 de Abril e as sonegadas dos quartéis, nos tempos do PREC de 75 e distribuídas por partidos políticos e organizações sindicais ou empunhadas por grupos terroristas.
A questão essencial, quanto a mim, não são as armas em si mas quem as possui. Um desequilibrado mental armado é obviamente um perigo para a sociedade. Mas quantas vezes alguém que se nos afigura calmo e sereno não descompensa de um momento para o outro e desata a disparar objectivamente ou à toa. Conheço alguns casos deste e bem mediáticos. O perigo é das armas ou das pessoas? Eu aposto, infelizmente, nas pessoas... 

Sem comentários:

Enviar um comentário