Um estudante americano, Nikolas Cruz, de 19 anos, assassinou 17 estudantes na escola secundária Marjory Stoneman, no estado da Florida, depois de disparar indiscriminadamente sobre os alunos, professores e o pessoal auxiliar do estabelecimento de ensino. Este caso coloca, mais uma vez, no topo da actualidade a (relativa) facilidade com que se adquirem armas nos Estados Unidos. A questão coloca-se desde a fundação do país, onde a 2ª emenda da constituição, aprovada em 15 de Dezembro de 1791, permite â população, individualmente ou em milícias de defesa, ter o direito a possuitr armas de fogo ou outras.
Nikolas Cruz armou-se de uma espingarda de assalto Armalite AR-15 e, sem que se saibam os motivos concretos, iniciou mais uma matança para os anais da história americana. As lojas de vendas deste tipo de armamento "travam" as espingardas de modo a que não possam fazer rajadas de mais de 3 tiros seguidos, mas os compradores geralmente "destravam-nas" para despejarem um carregadores de 20-30 muniçóes de calibre 5,56mm de uma só vez, o que as torna substancialmente mais mortíferas.
A National Rifle é um lóbi extremamente poderoso que se opõe a qualquer restrição e, deste modo, o congresso nunca reviu a 2ª emenda da constituição, apesar dos protestos, não organizados, de significativa parte da população. O presidente Obama, tentou, sem grande empenho diga-se de passagem, alterar este "status" mas sem qualquer resultado. Já o presidente Donald Trump, como todos os outros anteriores a Obama, fossem eles democratas ou republicanos, defendem a tradição do uso de armas, sendo figuras proeminentes da defesa pessoal os actores Charlton Heston e Clint Eastwood e, obviamente, os fabricantes de armas.
Esta celeuma relativa ao porte de arma também deve ter em conta a especificidade da fundação e consolidação dos Estados Unidos, desde a Guerra da Independència com os ingleses, as lutas com os índios e a vida selvagem, além de imensos territórios (o Texas é do tamanho da França) sem lei, onde a autoridade era delegada pelos cidadãos a indivíduos de passado mais ou menos duvidoso como Wyatt Earp, Bat Masterson, Wild Bill Hickok e milhares de outros que "policiaram" aqueles intermináveis espaços.
A posse de armas entranhou-se no espírito norte-americano e o seu direito continua inalienável na grande maioria da sociedade. Há, no entanto, uma questão que gostaria de abordar. A culpa de todo este cenário sanguinário é dos homens ou das armas? Repare-se neste pequeno pormenor. Segundo as estatísticas ocorrem no Brasil, onde a venda de armas não é livre, 50 mil homicídios por ano, enquanto nos Estados Unidos, com todas estas facilidades de aquisição, os homicídios não ultrapassam os 15 mil anuais. Em Portugal a questáo das armas também não é muito tranquilizadora. Entre caçadeiras, pistolas, espingardas e metralhadoras, andarão pelos dois milhões o número de exemplares, entre os licenciados para a caça, legalizados para uso pessoal e um sem-número de clandestinas, traficadas, roubadas e desviadas, entre elas os muitos milhares que vieram furtivamente das ex-colónias, após o 25 de Abril e as sonegadas dos quartéis, nos tempos do PREC de 75 e distribuídas por partidos políticos e organizações sindicais ou empunhadas por grupos terroristas.
A questão essencial, quanto a mim, não são as armas em si mas quem as possui. Um desequilibrado mental armado é obviamente um perigo para a sociedade. Mas quantas vezes alguém que se nos afigura calmo e sereno não descompensa de um momento para o outro e desata a disparar objectivamente ou à toa. Conheço alguns casos deste e bem mediáticos. O perigo é das armas ou das pessoas? Eu aposto, infelizmente, nas pessoas...
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