quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Um país à deriva!


A tempestade perfeita que se abateu sobre Portugal deixou o país à deriva. Perigosamente desprotegido. Existe algo parecido com um Presidente da República mas que não é mais que um populista embrulhado em afectos e com uns laçarotes de selfies para português ver. A principal preocupação do seu reinado é a sua insistência no "consenso". O comentador da república apela por consensos em todas as matérias, uma táctica astuciosa para manter o seu lugar na paz do senhor e uma reeleição sem obstáculos ou oposição de monta. 
Acontece que Portugal é uma democracia parlamentar, ou deveria ser, e esse regime implica discussão, antagonismo, ideias opostas, programas diversos e intervenções políticas divergentes. Alguém deixou para a posterioridade, e muito bem, o primado da "discussão nasce a luz". Marcelo Rebelo de Sousa pretende as luzes todas apagadas. A escuridão, o silêncio, o vazio. 

Numa primeira fase do seu reinado, o presidente ainda andou pelo país a patrocinar e a aguentar um governo medíocre de ministros medíocres e um primeiro-ministro medíocre. A alucinada actividade de Marcelo Rebelo de Sousa substituía um António Costa desastrado, incompetente e desbocado. 
Quando aconteceu a primeira tragédia dos fogos, em Pedrógão, o presidente enganou todos os portugueses quando afirmou textualmente "foram feitos todos os possíveis". Era mentira. Aldrabou-nos de uma forma soez, como o demonstraram os relatórios independentes elaborados posteriormente por entidades insuspeitas. 
As lágrimas e os abraços presidenciais de então ocultaram a falência inadmissível da Protecção Civil, do INEM, dos CODUS e derivados, das comunicações, da GNR e de todos os  organismos dependentes do estado. Perderam-se 66 vidas mas salvou-se o primeiro-ministro António Costa e os seus débeis ministros, isto quando se exigia uma reacção forte, vigorosa, exigente postura de um presidente com coragem de mandar para a lixeira da memória toda aquela manada de labregos que vegetam pelos ministérios. 
O pior é que a tragédia se repetiu, meses depois, causada pelas mesmas circunstâncias, com consequências igualmente trágicas e falhas semelhantes dos mesmos protagonistas do estado. Mais lágrimas, abraços e acção a menos. Mudou-se uma ministra tipo dona de casa desesperada para tudo continuar na mesma. Infelizmente para Portugal. 

Nesta pasmaceira que se afunda numa dívida pública impagável e que sobrevive à custa dos subsídios europeus e da generosidade turística que nos visita, mais um escândalo absorve não só a atenção nacional mas também a internacional com o roubo de material de guerra dos paióis de Tancos. Aqui, sobretudo, a gravidade de um caso que foi descurado desde o início, atingiu as raias do absurdo. Portugal é um país que integra a organização militar internacional da NATO, organismo que recebeu a notícia com cepticismo e preocupação. Como se pode confiar num país onde se furta material altamente letal com a mais facilidade que roubar laranjas num supermercado. 
Mais uma vez houve comentador Marcelo a mais e presidente Marcelo a menos, com a agravante de ele ser o comandante-chefe das Forças Armadas por inerência do cargo. E o que aconteceu? Nada. Manteve-se o desenho animado ministro da Defesa, manteve-se um humorista Chefe do Estado Maior do Exército, exoneraram-se temporariamente cinco comandantes de unidades responsáveis pela segurança de Tancos, entrou em acção uma destrambelhada investigação levada a cabo pelo Ministério Público, a Polícia Judiciária e a Polícia Judiciária Militar. 

Nesta rábula inconcebível num país civilizado, prenderam-se os militares que, bem ou mal, recuperaram o material de guerra com capacidade para, por exemplo, destruir a Assembleia da República e assassinar toda a gente no seu interior, e deixam-se à solta os autores do crime. Neste puzzle trágico-cómico digno de uma peça de teatro para malucos do Júlio de Matos é anunciada a não recondução de Joana Marques Vidal do cargo de Procuradora-Geral da República, saída anunciada há meses pela ministra da Justiça ex-militante do MPLA e concluída por uma ardilosa conspiração da dupla Marcelo - Costa, que elogiou tanto a PGR que achou por bem demiti-la. No entanto, todos os incapazes do governo e das instituições mantêm os seus cargos. Alguém de bom-senso entende isto? 
Detidos os militares que recuperaram o material de guerra, acontece que um deles denunciou ao juiz que o inquiriu que informou o ministro da Defesa sobre o "modus operandi" da recolha das armas. E agora? Continuaremos a ouvir atenciosamente o Marcelo comentador ou finalmente aparecerá um Marcelo presidente e tomará as medidas que este país à deriva exige? 
Vou repetir: senhor presidente, o meu caro é, por inerência do cargo, comandante-chefe das Forças Armadas. 
Entendeu ou é preciso fazer um desenho? 

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