domingo, 25 de junho de 2017

Faltou um Marquês de Pombal em Pedrógão


Quando Lisboa foi arrasada pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755, um padre jesuíta, Malagrida de seu nome, cirandava pelas ruínas clamando que a catástrofe era um castigo de Deus. O Marquês de Pombal perdeu a paciência com as homilias do homem, desterrou-o para Setúbal e mais tarde ardeu nas fogueiras da Inquisição para se calar de vez. 
Na tragédia de Pedrógão Grande quase todos os responsáveis políticos, desde o Presidente da República ao primeiro-ministro até às autoridades no terreno "condenaram" uma trovoada seca pelo inferno que ali se desencadeou, quais "malagridas" laicas a debitar esta versão nas televisões sem que um "marquês de Pombal" qualquer os desterrasse pelo menos para longe das pantalhas informativas. 
E no meio deste caos até prevaleceu a versão de que um "pj" tinha encontrado a árvore atingida pelo raio causador deste cenário de Dante. Incrível a intuição deste agente no meio de milhares de árvores consumidas pelas chamas e com o chão ainda a exalar temperaturas ardentes. Iniciava-se a lavagem e secagem de responsabilidades...
É nestas alturas que se conhecem as qualidades e os defeitos dos líderes. Ainda Lisboa não tinha tramado de tremer e já Sebastião José de Carvalho e Melo se erguia como um gigante dos escombros, ordenava que se enterrassem os mortos e cuidassem dos vivos, organizou os sobreviventes em bombeiros e coveiros improvisados, colocou equipas compostas por um juiz, um militar e um carrasco em vários pontos da cidade para julgarem e matarem os saqueadores em processos sumários, cercou Lisboa com regimentos para evitar uma fuga geral e chamou o engenheiro-chefe do reino, Manuel da Maia, o qual um mês após a calamidade, repito apenas um mês, apresentava um plano pormenorizado da reconstrução da baixa lisboeta, tarefa que começou de imediato após a remoção dos destroços. Tudo isto planeado e executado sem sistemas de comunicações inúteis como o SIRESP e outras (des)organizações como a Protecção Civil e restantes falhados no incêndio que ceifou a vida a 64 pessoas inocentes.
Mas todos os responsáveis políticos e não só que acorreram ao Comando Operacional no terreno não passaram de simples pigmeus choramingas e desorientados, que se abraçavam e derramavam lágrimas em vez de assumirem uma postura de firmeza, lucidez e competência, longe, muito longe do mérito de um Marquês de Pombal. 

Pretende-se agora um inquérito liderado por uma figura independente e de competência indiscutível. Pode ser que exista alguém com este perfil mas não me lembro de ninguém, a não ser do general Ramalho Eanes. 

Por mim a conclusão é simples e óbvia: todos os envolvidos em cargos políticos ou civis na tragédia já deviam ter pedido a demissão ou ser demitidos. As 64 vítimas exigem-no. A "estrada da morte" persegui-los-à para sempre. Eu não me esquecerei!

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