terça-feira, 25 de abril de 2017

O 25 de Abril acabou no dia 25 de Abril



25 Abril de 1974. Chamam-lhe a Revolução dos Cravos. Sem sangue. Mentira. Morreram cinco pessoas na Rua António Maria Cardoso vitimadas por rajadas de metralhadora de agentes da PIDE. Irrita-me esta imprecisão histórica ou manipulação orquestrada com intuitos políticos. 
Houve cravos distribuídos por soldados? É verdade. Mas não como é propagandeado há décadas. Naquele dia ninguém comprava flores e as vendedoras deram-nas. A quem? A muitos soldados, alguns deles até se encontravam na rua em defesa do Estado Novo, como os militares do Regimento de Infantaria 1, Polícia Militar e Regimento de Cavalaria 7, ou seja, inimigos do Golpe de Estado.
No entanto, nas primeiras horas não houve cravos para ninguém. A situação tanto poderia pender para um lado como para o outro. Apenas começou a definir-se quando, no Terreiro do Paço, os carros pesados M-47 não abriram fogo às ordens do brigadeiro Junqueira dos Reis e desfizeram as AML, da Escola Prática de Cavalaria, com o auxílio da fragata comandada por Seixas Louçã, pai de Francisco Louçã.
Em face da vitória no Terreiro do Paço, a coluna da EPC dividiu-se e enquanto o capitão Salgueiro Maia se dirigiu para o Largo do Carmo, o major Jaime Neves foi "conquistar" a Legião Portuguesa, na Penha de França.
Neste trajecto pelas ruas da Baixa, ofereceram alguns cravos aos soldados até que um deles o colocou no cano da G3 porque na farda era proibido e a mão livre segurava um cigarro. Alguns imitaram-no. Poucos.
No Largo do Carmo, a situação era difícil e não havia lugar para flores. Duas companhias da GNR, uma companhia da Polícia de Choque, os quatro blindados pesados de Cavalaria 7 e elementos da Polícia Militar ainda afectos ao governo cercavam o esquadrão da EPC. Por duas vezes Salgueiro Maia mandou disparar contra a fachada do quartel mas mesmo assim a GNR não se rendia e foi por um triz que o canhão da Panhard não desfez as portas do quartel, o que não aconteceu por terem aparecido dois negociadores conotados com o general Spínola.
A chegada do coluna de carros de combate proveniente do Regimento de Cavalaria de Estremoz, sob o comando do capitão Andrade Moura, aliviou o cerco a Salgueiro Maia e acabou definitivamente com a presença da GNR, Polícia de Choque e RC7 no Largo do Camões e no Chiado. Era o triunfo do Golpe de Estado.
Temos, portanto, soldados e cravos transformados em ícones do 25 de Abril. Mas falta alguém. Quem? As putas. Sim, as mulheres da vida apoiaram os militares nas horas críticas. Ofereceram-lhes comida, bebidas, tabaco e, acalmadas as tensões bélicas, levaram-nos para a cama, acarinharam-nos, uniram os corpos, excitaram outras emoções, descarregaram na carne as tensões do momento histórico. Tudo grátis. De gratidão. 
Da Revolução ficaram os cravos e as putas esfumaram-se no politicamente correcto da História.
Eu lembro-me delas e saúdo-as. Não gosto de cravos!
Mas o 25 de Abril começou e terminou no 25 de Abril. Logo pelas 19h00 o MRPP irrompeu pelos Restauradores com uma manifestação. Os partidos entravam em cena. Gulosos de poder e mordomias atiraram-se ao Estado e aos cofres dos dinheiros públicos de todos nós como gato a bofe.
Civis e, infelizmente, militares alistaram-se nas benesses dos partidos políticos e engalfinharam-se pelo poder e pelo dinheiro. A "revolução" trouxe a liberdade de saquear o erário público e daí nasceu uma clientela política oportunista e gananciosa que dura há 43 anos. Os primeiros a tratarem das suas vidas opulentas foram os deputados que pariram leis que lhes garantiam uma vida desafogada. Depois vieram outros ainda mais sedentos de regalias como, por exemplo, os funcionários do Banco de Portugal que usufruem de direitos pornográficos. A democracia quedou-se no papel e nas migrações pontuais às urnas de voto. Mas todos saqueiam por igual.
A corrupção atinge níveis que a frágil economia do país não suporta. As empresas públicas e os funcionários públicos empocham muito acima dos pobres privados que os suportam através de impostos rechonchudos. A Constituição exige igualdade. Ninguém a cumpre. Tal como no Triunfo dos Porcos, uns são mais iguais que outros. 
E os sucessivos governos, incluindo esta geringonça actual mantida por um presidente comediante, tem reduzido Portugal a uma imensa pocilga moral e material. 
Comemorar? Só se for "outro" 25 de Abril...

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