sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O fim do PREC-75


25 de Novembro de 1975: combati com portugueses do meu lado contra portugueses com outras ideias e dispostos a discuti-las pela força das armas. A guerra civil esteve por um fio. O tiroteio foi intenso no assalto ao Regimento de Polícia Militar, na Calçada da Ajuda, em Lisboa. Tombaram mortalmente dois camaradas do meu lado. Um "adversário" foi abatido pelas nossas forças. Paz às suas almas. Nunca esquecerei esse dia!
Recordemos, com auxílio de www.areamilitar.net , os acontecimentos desses dias:

Na madrugada de 25 de Novembro de 1975, forças militares da extrema-esquerda saem da base de para-quedistas de Tancos.
Os comunistas pró-soviéticos, conhecedores da movimentação, reúnem de emergência o comité central às 03:30 da madrugada desse dia.
04:00 da madrugada, é confirmada a demissão de Otelo Saraiva de Carvalho da chefia do Comando Operacional do Continente, retirando à extrema-esquerda este posto militar de importância estratégica.
Quase à mesma hora, os movimentos da extrema esquerda emitem um comunicado a afirmar que chegou a hora dos trabalhadores mostrarem o seu poder. O objetivo é o de esmagar a besta fascista, aludindo a uma manifestação de agricultores anti-comunistas, que tinha erguido barricadas a 40 km a norte de Lisboa e à demissão de Otelo Saraiva de Carvalho.
04:30 - ocorre a primeira acção de contenção do golpe, quando quatro Chaimites do Regimento de Comandos (afecto às forças democráticas) montam guarda ao Palácio Presidencial em Belém.
05:00 – Unidades blindadas fiéis às forças democráticas saem do regimento de Cavalaria de Estremoz e da EPC (Escola Prática de Cavalaria) de Santarém, em direcção a Lisboa
06:00 – Tendo conhecimento desta movimentação militares esquerdistas do RALIS (Regimento de Artilharia de Lisboa) tomam posições defensivas na entrada norte de Lisboa, no aeroporto da Portela e no depósito de material de guerra em Beirolas. A movimentação dos blindados ocorrerá porém apenas no dia seguinte.. 
06:00 – 08:00
Forças dos para-quedistas tomam as instalações militares do DGACI de Monsanto (07:00)
Forças dos para-quedistas (extrema-esquerda) controlam a base de Tancos.
Forças também dos para-quedistas tomam as bases aéreas de Monte-Real, Montijo (Margem sul do Tejo) e Ota.
08:00 – As forças revolucionárias da extrema-esquerda tomam posições importantes, mas torna-se claro que o Presidente da República (cuja posição era indefinida) decidiu contrariar o golpe revolucionário.
09:00 – O Presidente da Republica reúne-se de emergência com o Conselho da Revolução para analisar a situação.
10:00 – O Partido Comunista apercebe-se que a situação, embora aparentemente favorável aos revolucionários não tem saída, desde que o Presidente decidiu contrariar o golpe. O PCP dá ordens à sua principal unidade operacional, os Fuzileiros Navais, de que «não é a altura para avançar».
12:00 - O presidente convoca Otelo Saraiva de Carvalho para que se apresente no Palácio de Belém.
14:00 - 16:00 - O Presidente da República manda que vários comandantes de unidades militares da região de Lisboa se apresentem no Palácio de Belém.
15:00 - Otelo Saraiva de Carvalho (desistindo de comandar os revoltosos) apresenta-se ao presidente.
16:00 – Depois de se informar sobre quais as acções que serão levadas a cabo pelos comunistas pró-soviéticos e pela central sindical comunista (CGTP), o Presidente da República declara o «Estado de Excepção» na Região Militar de Lisboa.
16:30 – Tropas do Regimento de Comandos (fiéis às forças democráticas) preparam-se para atacar a base de Monsanto, o Regimento de Artilharia de Lisboa e unidades do Regimento de Artilharia de Costa (aparentemente fiéis aos revoltosos da extrema-esquerda).
16:30 - O presidente manda emissários às instalações do comando da Força Aérea em Monsanto pedindo a rendição dos revoltosos, mas sem sucesso.
17:00 - Forças da EPAM (Escola Prática de Administração Militar) (extrema esquerda) tomam as instalações da Televisão. A emissão passa a ser constituída por bailados revolucionários e música clássica.
17:00 – Populares da região de Leiria cercam a base de Monte-Real, que tinha sido tomada pelos para-quedistas da extrema-esquerda e impedem a sua utilização.
19:15 – Os para-quedistas em Monsanto rendem-se às forças do Regimento de Comandos.
O capitão Duran Clemente, afecto aos revoltosos lia um comunicado mas é




interrompido e a emissão da RTP (Rádio Televisão Portuguesa) a partir de Lisboa, passa a ser assegurada a partir dos estúdios no Porto. A programação, que transmitia música sinfónica e um balet revolucionário (ao estilo chinês) prosseguirá depois com um filme americano com Danny Kaye.
No entanto o controlo do sinal de televisão tinha sido mais complexo que o que parecia.
As forças da extrema esquerda controlavam os estudios da RTP no Lumiar em Lisboa, mas quando as forças da esquerda revolucionária são cercadas no quartel de Monsanto, toda a área fica sob controlo das forças democráticas, que assim passam também a controlar o principal posto emissor de televisão em Lisboa que se encontra nas proximidades.
É aparentemente por essa razão que essas forças tiveram capacidade para cortar a emissão do Lumiar, substituindo-a pela emissão dos estúdios da RTP na cidade do Porto.
Embora controlassem o principal estúdio da televisão pública, os revolucionários da extrema-esquerda não tinham como colocar o sinal de televisão no ar.
Ao controlar o sinal de televisão, as forças democráticas podem então começar a regularizar a situação anunciando uma comunicação do Presidente da República.
Dia 26 de Novembro:




00:30 – A Base aérea da Ota volta ao controlo das forças democráticas.
01:00 – Populares da extrema-esquerda cavam trincheiras junto às instalações da Policia Militar na Ajuda, a apenas 500m (quinhentos metros) do Palácio Presidencial.
02:00 – Não tendo conseguido o controlo completo da situação, forças de infantaria vindas do Porto de Vila Real e de Braga, preparam-se para marchar sobre Lisboa.
07:20 – Os comandantes do Regimento de Policia Militar são convocados para se apresentarem ao Presidente da República, 500 metros mais abaixo, mas um plenário de militares revolucionários determina que o Presidente deve primeiro explicar as razões da convocação.
Um militar da presidência dá a palavra de honra de que os oficiais esquerdistas não serão presos e dois deles (Major Mário Tomé e Major Cuco Rosa) apresentam-se no palácio às 08:00 .
08:15 – Quinze minutos depois, os militares do Regimento de Comandos tomam de assalto o quartel do Regimento da Polícia Militar. Durante o assalto morrem dois militares, um Tenente e um 2º-Furriel.
Os comandantes da Policia Militar, contrariando a promessa dada, receberão ordem de prisão durante essa manhã.
Também durante a manhã, o comandante do RALIS apresenta-se ao presidente e é detido.
10:00 – Blindados chegados da Escola Prática de Cavalaria de Santarém controlam o Depósito-Geral de Material de Guerra.
À tarde, os Fuzileiros Navais, que não tinham aderido ao golpe por indicação do Partido Comunista cumprem ordens recebidas do Presidente para tomarem posições no forte de Almada e dispersam uma manifestação de populares junto ao seu quartel.
Por volta das 16:00 a EPAM (Escola Prática de Administração Militar) rende-se
Ao fim da tarde, a Base Aérea do Montijo volta ao comando da 1ª Região Aérea.
O golpe de 25 de Novembro tinha terminado.
Os militares que iniciaram a revolução democrática de 25 de Abril de 1974 tinham impedido uma guerra civil, ao mesmo tempo que indirectamente se tinham oposto à instalação de um regime comunista em Portugal.

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