sábado, 22 de outubro de 2016

O Futebol, o D. Sebastião e o "Piloto"

Há uns 20 anos fui fazer a reportagem de um FC Porto-Benfica, no já desaparecido Estádio das Antas. Era uma noite de sábado e a cidade Invicta encontrava-se embrulhada num nevoeiro intenso e opaco. Pensei que o desafio seria adiado devido ás péssimas condições climatéricas mas não. El-Rey manda marchar, não manda enevoar... Da bancada de Imprensa para o relvado não se vislumbrava um palmo á frente do nariz. Liguei para a Redacção do meu Jornal e informei quem estava de serviço sobre a impossibilidade de fazer um trabalho que pura e simplesmente não via e por isso que optassem por outra solução como utilizar a transmissão televisiva, onde, a espaços, ainda se vislumbrava um ou outro pormenor.
Como o responsável de serviço em Lisboa era burro como uma porta e tinha o sádico prazer de me contrariar sempre que eu tinha razão foi lesto em dar-me um rotundo "não". Ok. Como nunca fui de me atrapalhar deitei as mãos ao trabalho de escrever 120 linhas de texto sem saber népia do que se passava dentro do relvado. Já na segunda parte do presumível jogo de futebol ouviu-se um clamor localizado, primeiro, e extensível posteriormente a todo o campo. Tinha sido golo  dos "dragões" e o romeno Timofte fora o seu autor. Como o soube? Desci os degraus da bancada e fui perguntar a um dos putos apanha-bolas. 
Meia-hora após o final, a Redacção do meu Jornal, em Lisboa, já detinha em seu poder as minhas 120 linhas de crónica sobre algo de que não faço a mínima ideia do que aconteceu. Mas quiseram assim e assim foi.
Escrito isto, como eu compreendo os meus colegas dos órgãos de comunicação social que "perseguem" o "Piloto" assassino de Aguiar da Beira por montes e vales, á chuva e ao nevoeiro, atrás dos militares da GNR e dos agentes da Polícia Judiciária, também eles em busca de um "fantasma" de quase 2 metros de altura, especialista em sobrevivencia com umas frugais raízes e peças de fruta, furtando um carro ali, outro aqui, matando, agredindo para escapar á justiça e aos holofotes das cãmaras e aos flashes dos fotógrafos. Mesmo assim, os meus camaradas jornalistas lá tem´de mandar crónicas do "nada" e imagens de "coisa nenhuma" sempre na esperança de enviarem para as redacções a tão desejada "cacha": "Paulo Dias capturado" ou "Assassino Abatido".
No entanto, de todos os nevoeiros que já referi, o mais provável é aparecer numa manhã destas o D. Sebastião regressado de Alcácer-Quibir...

PS- Desculpem lá as 120 linhas inventadas do FC Porto-Benfica que não vi por causa do nevoeiro.

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